Um blog de corredores, para corredores

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Maratona de Curitiba 2009

Completei minha primeira #maratona em 5h e 50min. Corri e andei, lento e com dores. Mas, #eufui e COMPLETEI! Foi o que eu escrevi no Twitter após ter concluído a maratona de Curitiba em 22 de outubro de 2009. Este relato, bastante tempo após, servirá para guardar detalhes sobre como foi a prova, o que ela significou para mim, o antes e o depois. Primeiro, um pequeno esclarecimento para quem não sabe o que é uma maratona: é a mais longa, desgastante e uma das mais difíceis e emocionantes provas do atletismo olímpico. Ela é disputada na distância de 42,195 Km desde 1908. Toda maratona tem esta distância e não existem maratonas de 10 ou 21 Km (esta última distância é apelidada de meia maratona).

Eu decidi participar deste evento enquanto ainda estava trabalhando no Rio de Janeiro, na Andima (Jan/2008 - Set/2009). O intuito principal era provar para mim mesmo que eu seria capaz de vencer mais este desafio, ou seja, "a parada era pessoal". Contei com o apoio do amigo de trabalho Sérgio Ladany que se prontificou a me dar dicas de treinamento e correr junto comigo às 06:30 no Flamengo às terças e quintas. Na ocasião, eu então passei a acordar às 05:30 para sair da Tijuca e pegar o metrô para desembarcar na estação Flamengo até às 06:10. Às quartas e sextas-feiras (às vezes sob chuva) eu fazia o mesmo, apenas para não perder o pique. Aos sábados e domingos, quando estava em minha casa em Brasília, eu também treinava. Eu descansava às segundas, quando voltava para o trabalho no Rio. O Ladany falava para mim que ele estava ajudando a me preparar para CORRER BEM uma prova de 21 Km. Eu havia lhe dito que meu melhor tempo numa meia maratona havia sido na prova do Rio, acompanhando o JCarlos durante 2h e 8min mas que, fazer a prova neste tempo, fora realmente desgastante para mim. Ladany afirmava que eu deveria concluir uma meia maratona tendo ainda, energia para concluir a segunda metade do percurso. Após 21 Km, tudo o que eu corresse já seria lucro. Lembro-me dele ter dito que, em sua primeira maratona, a partir dos 26 Km ele começou a alternar caminhada e corrida e que seu tempo final foi acima de 5h. Hoje ele já possui mais de 13 maratonas em seu currículo.

Meu trabalho no Rio de Janeiro encerrou-se no início de outubro e eu voltei definitivamente para minha casa em Brasília. Continuei treinando com afinco e disposição para correr distâncias ainda maiores. Num dos finais de semana que se seguiram, fui até Goiânia para a casa de meus pais e aproveitei um domingo (04/Out) de sol pela manhã, saindo da Rua 9, próximo a praça Tamandaré, subindo até a Av. 136 e indo até próximo ao Shopping Flamboyant para depois retornar até o Clube de Engenharia: um percurso de 12,3 Km. Esta corrida foi ótima e eu não tive dificuldade alguma com ela, fora a íngreme subida da Jamel Cecílio, no retorno. Mas, na terça-feira seguinte, ao reiniciar meu treino em Brasília, passei a sentir uma fisgada dolorida na perna esquerda, abaixo da panturrilha. A dor começava intensa no início da corrida e com o tempo ia diminuindo. Em algumas das corridas nos dias seguintes a dor chegava ainda mais forte. Mesmo assim, cheguei a treinar algumas vezes e a acreditar que ela tinha passado por não sentí-la em todas as corridas. Contudo, a dor voltou a me atrapalhar uma ou duas corridas após meu último post. Eu fui obrigado a dar um tempo e a tomar anti-inflamatórios. Para tentar não perder tanto o condicionamento físico, passei a me exercitar em uma bicicleta, o que não causava o impacto e o sofrimento da corrida. Aproveitei este tempo para conhecer e pedalar na Floresta Nacional de Brasília (a 2 Km de minha casa). É um ótimo lugar! Descobri que vários corredores e ciclistas gostam de ir praticar seus esportes por lá.

Mesmo após ter parado de correr por quase duas semanas, resolvi não desistir de participar da meia maratona em Goiânia no dia 25 de outubro (prova que comemora o aniversário desta cidade, dia 24). Nela eu corri num bom ritmo por 17 Km. Mas, a partir deste Km, meu condicionamento foi caindo e eu começei a andar e correr, andar e correr, andar, andar, andar, .... Cheguei em 2 h e 30 min (tempo líquido) e considerei esta uma das mais lentas das cinco meia maratonas que já havia feito (esta, duas no Rio de Janeiro e duas em Brasília). Foram poucos que ficaram atrás de mim, mesmo assim, eu concluí a prova. Terminei-a sem dores, e deduzi (precipitadamente) que eu já deveria estar recuperado da lesão. Mas, estava enganado!

Passada a meia maratona de Goiânia e alguns poucos treinos, voltei a sentir a dor na perna esquerda. Apesar dos problemas, sempre me mantive otimista e determinado a fazer a prova postando no Twitter: #MaratonaDeCuritiba 2009: #EuPosso, #EuConsigo, #EuQuero, #EuVou!!!!. Dezenove dias antes da prova, eu estava ouvindo a voz pessimista citada por Dean Karnazes em seu livro e ainda reclamava da dor. Conversei com a jornalista e maratonista Yara Achôa, que já havia escrito algo a respeito de lesões em uma das edições da revista Contra Relógio. Ela me deu algumas dicas sobre o que fazer para a dor passar e, no dia 6 de novembro, recebi sua notícia de que ela havia publicado algumas dicas que dou no post "Como eu uso o Twitter" na edição 194 da Contra Relógio. Achei muito legal, leia esta a matéria!. Eu não queria e nem poderia desistir tendo mais esta notícia para me entusiasmar!

Devido as dores na perna, eu parei de correr até acreditar que eu estava curado. Em consequência disto, eu também já não acreditava mais que seria capaz de concluir a maratona de Curitiba correndo todo o seu percurso (ou mesmo trotando). Mesmo assim, eu estava determinado a ir e correr o quanto pudesse. Para tentar me salvar da lesão e manter meu condicionamento físico, eu fiquei somente por conta de pedalar. E fiz isto, até o dia de minha ida para Curitiba, em 20 de novembro. Ou seja, somente voltei a correr novamente, no dia da maratona.

Em Curitiba, fiquei hospedado na casa de uma tia da minha esposa (Wanda Réquia), uma pessoa carinhosa e brincalhona. No sábado, fui com o primo da minha esposa pegar o kit da corrida. Em seguida, de Curitiba fomos para Itapema e Camboriú. Mas, o dia não estava tão bom para praia e pegamos chuva em parte do trajeto de volta. Jantamos e, logo após, fomos ao cinema. Fui dormir já era 1h da manhã mas, como eu disse, minha expectativa era apenas completar a prova e por isto, estava tranquilo e consegui dormir até às 06:30, sem problemas. No café da manhã, um suco de uva, um pedaço de um bolo de milho e outro de banana. Para comer enquanto corria, coloquei num saco de plástico uma maçã e algumas balas de caramelo com chocolate. Wanda e minha esposa me levaram até próximo ao local da largada e me desejaram BOA SORTE...

A prova começou às 08:00. Dia bonito, com sol. Minha estratégia era correr mantendo a frequência cardíaca (FC) entre 150 e 160bpm. Consigo isto correndo LENTO. Então, a grande massa de corredores passou... Permaneci no time "Devagar e Sempre". Por volta do Km 8, conheci um corredor que se mantinha mais ou menos em meu ritmo. Seu nome era Raphael. Corríamos juntos e conversamos enquanto isto. Ele me explicou que alguns de seus amigos o haviam chamado para participar da maratona mas que eles haviam "aprontado" pois foi ele surpreendido com o fato de que todos haviam se inscrito para a prova de 10 Km e só ele havia se inscrito para a maratona. Passamos por um senhor de 78 anos, meu xará (Paulo) de Roraima. Registrei este momento com meu celular numa micro-entrevista (somente áudio) e pensei: se este senhor de 78 anos está fazendo sua maratona de nr. 78, como eu poderia deixar de concluir a minha primeira?

Por volta do Km 19, Raphael ficou para trás por necessidades fisiológicas ;-). No Km 21 eu começei a andar pois a minha FC já estava bem acima do que eu havia planejado. O Raphael havia me dito que ele estava programando fazer apenas metade da prova. Mas ele mudou de planos. Talvez pela minha insistência em convencê-lo de que ele conseguiria até mesmo chegar antes de mim, se mantivéssemos aquele ritmo. Ainda no Km 21, ele me passou, correndo. Reanimei com o fato e continuei a correr mas, daí em diante, as coisas começaram a ficar bem mais complicadas. Correr já não era mais tão prazeroso, os músculos estavam endurecidos e a FC teimava em baixar. Minha estratégia mudou: alternar corrida e caminhada a cada 1 Km. Consegui fazer isto até o Km 31. No Km 32, a chuva veio forte: o sol bonito do início da manhã se fora. O tênis encharcou e daí pra frente, não consegui mais correr. Até caminhar era difícil. Por volta do Km 34 a chuva se foi e eu estava decidido a chegar antes do tempo limite da prova (6 h).

Cruzei a linha de chegada MUITO FELIZ no tempo líquido de 5 horas, 48 minutos e 49 segundos. Treze pessoas chegaram depois de mim e ainda antes do tempo limite da prova, mas o Raphael chegou antes, 7 minutos antes. Fiquei contente em poder animá-lo e por ter visto que visto que ele atingiu um objetivo que ele não esperava. E fiquei ainda mais contente comigo por ter conseguido vencer as dificuldades provocadas pela lesão que me impediram de correr e treinar melhor para esta prova. Sentia dores na chegada e as pernas estavam duras. Mas, nada comparado a dor causada pela lesão que eu tive dias antes. Fui para a casa da tia Wanda. Tomei banho, almoçei, tomei um relaxante muscular, dormi no período da tarde e, ao final do dia, já estava bem e andava quase que normalmente. Alguns dias após a maratona, voltei a correr sem dores e sonhando quando irei correr uma maratona inteira, sem caminhar, e num tempo inferior a 4 horas e 30 minutos.

Neste momento, estou me preparando para o próximo desafio: a meia maratona das pontes, em Brasília, dia 28 de fevereiro. Tenho a expectativa de concluí-la em 2 h e 15 min.